‘Mindfulness’ sem stress

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Baseado na “atenção plena”

Uma serena revolução está ocorrendo nos Estados Unidos”, afirmou há algumas semanas, o senador Tim Ryan. Pode afetar favoravelmente ao sistema norte-americano de saúde, educação e bem-estar social. E por se fosse pouco, Ryan não o disse em um gangue, sotto voce, mas na Assembleia geral das Nações Unidas do dia 2 de abril. A revolução a que se refere o Ryan é chamado de mindfulness (sua tradução mais adequada seria “atenção plena”), e também chegou a Portugal. Para saber o que é, exatamente, vou a um dos quartéis onde se gesta este movimento sedicioso, silencioso e pacífico.
Mas antes, eu decidir realizar uma tarefa de espionagem. Esta disciplina tem suas origens nas práticas de meditação orientais, mas foi na década de 1970, quando Jon Kabat Zinn, doutor emérito em medicina pela Universidade de Massachusetts, adaptou-se aos nossos tempos e pôs em prática sistemas de redução de stress, usando este tipo de meditação na Clínica de Redução do Estresse da Universidade em que se formou. Foi nesse momento que começou a circular de boca em boca a prática, os livros são vendidos por milhões e famosos de todos os humores foram mergulhadas em sua prática embutidos de uma grande virtude própria desta disciplina: a sua facilidade de compreensão.
Vicente Simão, professor de Ecologia da Universidade de Valência e autor do livro Aprender a praticar mindfulness, explica-me em que consiste, de modo acessível: “É algo muito simples e que todos nós experimentamos alguma vez: quando somos conscientes de que estamos fazendo ou sentindo, estamos praticando mindfulness”. Perfeito, agora me resta claro: é o antigo conselho materno “atento ao que você faz!” Eu acho que estou pronto para a próxima etapa.
Gustavo Diex será meu instrutor nas etapas iniciais de um curso que costuma durar oito semanas e abrange práticas em grupo e exercícios individuais que posso fazer em meu tempo livre. Gustavo, licenciado em Ciências Físicas pela Universidade Autónoma de Madrid, diretor do programa de Formação de Professores de Yoga e Meditação, e criador dos programas de Redução de Stress baseadas em Mindfulness da Universidade Complutense de Madrid, me acalma desde o primeiro instante. Não devo usar roupa especial (de fato, eu vou com uma calça jeans), nem ter experiência prévia em meditação. Não é necessário comprovar uma flexibilidade mínima. “Qualquer um pode fazer, em qualquer momento”, me garante.
Ok, eu aceito o desafio, mas antes de entrar em matéria, eu preciso saber o que é mindfulness: como atenção plena, plena consciência, concentração total? “A consciência não é um fenômeno voluntário” me explica Gustavo. “Você não é consciente de cansaço. Em contrapartida, a atenção sim é um fenômeno voluntário. Neste sentido, mindfulness é atenção plena. Ao praticá-la, é possível evitar a resposta automática que surge de experiências anteriores e nos leva a reagir de forma desproporcional”. Ou o que é o mesmo: contar até dez antes de fazer algo determinado.
Mãos à obra
O primeiro exercício consiste em prestar atenção à respiração. Com os olhos fechados, devo notar o ritmo de inspiração e expiração, mas sem influenciá-lo. À medida que o tempo passa, percebo algo que me antecipou Vicente Simão, o nosso cérebro age como um macaco: vai de ramo em ramo, de pensamento em pensamento. “Encontrar um foco de atenção, como a respiração, permite que nos concentrar no presente, sem comparar com o passado, nem especular sobre o futuro”. Quando isso ocorre, o corpo e a mente respondem de um modo surpreendente. O cérebro é composto de dois hemisférios que têm a seu cargo tarefas quase opostas. O hemisfério esquerdo, por exemplo, está associada com o processamento lógico, habilidades matemáticas e a análise racional. O lado direito, enquanto isso, tem a nossa localização no espaço, a expressão emocional, a imaginação e a criatividade.
A uma neurocientista Shanida Nataraja, do University College de Londres, afirma que os ocidentais usamos muito mais o nosso hemisfério esquerdo, e a prática de mindfulness persegue em termos neurológicos uma maior ativação do direito. E o que acontece quando isso é feito? De tudo, mas para mostra apenas um botão: se o lado direito, se acciona o sistema parassimpático e se “desliga” o simpático, que é o encarregado de liberar adrenalina. Graças a isso, ele reduz o nível de estresse. E agora tenho tudo, menos estresse. Vamos ao próximo passo.
Estou a realizar o segundo exercício. O que posso levar a cabo sentado em um tapete, em uma cadeira ou em pé, é muito simples: consiste em fechar meu punho e, em seguida, abri-lo o mais lentamente possível. O processo Todo pode levar até 5 minutos (se você tentou, você vai ver que é muito tempo). O objetivo, novamente, é focar a atenção em uma única coisa: o presente. Gustavo nos aconselha que, se em algum momento nos sentimos desconfortáveis na posição escolhida, tirar pelo menos um momento para identificar individualmente as áreas que nos incomodam. E então nós podemos mudá-lo sem problema e continuar com o exercício.
Nos relacionarmos com o presente, como antecipou Vicente Simão, terá um efeito subversivo na gestão das nossas emoções. Diante dela, o nosso cérebro responde através de um circuito já conhecido: percebemos um estímulo, este viaja diretamente parte à amígdala e ao neocórtex (a área racional). Se a amígdala detecta uma correspondência com outro estímulo anterior, então assuma o controle sobre o cérebro racional e age de modo instintivo. Não importa se a situação é diferente ou um ambiente diferente, é uma resposta programada de que não somos conscientes.
Luta ou corre
Se bem que esta atitude permitiu-nos fugir de qualquer perigo e estar alerta para ameaças em nossos primeiros tempos evolutivos, no mundo atual gera reações violentas ou desproporcionadas de modo automático.
Os estudos de neurociência relacionados com a meditação têm demonstrado sua eficácia na neuroplasticidad, a capacidade do nosso cérebro de transformar certas regiões de acordo com os estímulos que recebe. Isto confirma a opinião do psicólogo Donald Hebb, que cunhou a frase: “Os neurônios que são ativados juntas se conectam juntos”, o que quer dizer, neste caso, que quanto mais se pratica mindfulness, mais rotas neurais são construídos para reagir de modo adequado a cada situação. E este, finalmente, é o grande objetivo, segundo vejo no final da sessão, quando todos nós nos apresentamos e surgem as correspondências. Quase todos os participantes, 15 no total, relatam que procuram uma forma de aprender a gerir de forma mais adequada as emoções. Será que mindfulness a resposta certa?
Tags: exercício físico.

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